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COMO OBSERVAR SISTEMATICAMENTE À LUA

Por: Audemário Prazeres

Presidente-Fundador da A.A.P.

Constitui a Lua, um dos mais magníficos astros para observação e, melhor do que isto, praticamente acessível a maioria dos instrumentos em que um amador possui. Ou seja: pequenas lunetas tipo “pirata”; binóculos; pequenos refratores e modestos refletores.

A Lua, único corpo extraterrestre em que o homem já colocou os pés, sem dúvida é o mais acessível às observações. Mas, talvez por esta razão, onde temos muitas informações sobre o nosso satélite, a Lua viu-se praticamente abandonada pela maioria dos amadores, que embora aprecie contemplar a sua superfície, imaginam que a observação lunar de valor cientifico seja apenas nos momentos dos eclipses lunares. E como isto é um verdadeiro engano, pretendemos apresentar neste artigo, alguns procedimentos para as observações lunares em que os amadores podem realizar. Desta forma, esperamos que deixem de lado aquela ideia de “contemplamento” de sua beleza superficial, e passem a realizar observações periódicas com cunho científico.

Suas principais manchas (os “mares”), podem ser percebidas mesmo sem auxílio de instrumentos. Nas proximidades da Lua cheia, a disposição das manchas lembra um rosto bonachão. E, nesse sentido, a imaginação humana deu asas à criatividade desde a mais remota Antiguidade.

A melhor maneira para familiarizar com a paisagem lunar é acompanhá-la, dia após dia, no decorrer de todo tempo de uma lunação (espaço de tempo decorrido entre duas luas novas consecutivas). Com um mapa lunar, e um pequeno telescópio ou binóculo, tudo fica mais fácil. Em geral, para uma boa observação, deve-se esperar pelo menos o terceiro dia de lunação. Ou seja: três dias depois do novilúnio (fase de Lua Nova), ou também conhecida como fase de “três dias de idade”. Isso porque, logo após a fase de Lua Nova, dificilmente se percebe a finíssima “foice”, que se apresenta muito baixa e imersa em reflexos solares.

Durante a fase de Quarto Crescente fica visível inclusive o resto do disco, graças à chamada “luz cinérea”, que se deve à claridade emanada da Terra. Essa luz, apesar de dez mil vezes inferior à solar, permite o reconhecimento das principais formações na superfície de nosso satélite. Nessa fase o detalhe que mais se destaca ao telescópio é uma grande cratera de nome Petavius Torna-se fácil reconhecê-la, não só por suas dimensões (160 km), mas também por um grande sulco que liga o grupo de pequenas colinas centrais e a parede sul. Na direção norte, percebe-se uma pequena planície de forma hexagonal, o Mare Crisium, que inclui em sua borda ocidental dois promontórios (cabo formado por rochas elevadas), chamados de Olivium e Lavinium. Estes em 1952, apareceram unidos por uma gigantesca ponte com 3 km de arco. A ponte “lunar”, como logo foi batizada, revelou-se mais tarde tão somente uma ilusão de óptica, provocada pela margem iluminada de uma pequena cratera próxima.

À medida que os dias passam e a fase avança, tornam-se visíveis outros detalhes. No quarto dia da lunação, temos o Mare Foecunditatis, enorme planície localizada entre os hemisférios norte e sul. Aqui se encontra duas pequenas crateras que foram consideradas idênticas no século passado, chamadas de “gêmeas” Messier e Pickeriring. Hoje contudo, com um modesto refrator de 9 cm, percebemos que existe algumas diferenças, que foram definitivamente consolidadas pelas sondas espaciais.

No quinto dia de lunação, é a vez do Mare Tranquilitatis, famoso pelo pouso da Apolo XI em 20 de Julho de 1969, onde Neil Armstrong pisou no solo lunar, perto das crateras Sabine e Ritter.

No sexto dia, nascer do Sol nas crateras de Maurolycus, Gemma, Frisius, Pontanus, Abulfeda, Delambre, Júlio Caesar, Bessel, no Mare Serenitatis, Eudoxus, Aristóteles.

No sétimo dia de lunação: Quarto Crescente – Um dos dias mais interessantes para a observação da superfície lunar. Nascer do Sol nas montanhas de Haenus, Apeninus e Caucasus nas bordas do Mare Serenitatis, e as crateras de Albategnius, Mamilius, Triesneckr e suas ranhuras, Hipparchus, Hyginus e suas ranhuras, Autolycus, Aristillus, Cassin e Valle Alpine.

Em seu oitavo dia: Nascer do Sol nas crateras de Maginus, Horbiger, Purbarch, Thebit. Arzachel, Alphonsus, Ptolomaeus próximo de Thebit. Num desnivelamento do Mare Nubium encontra-se o Muro Reto ao lado da cratera de Birt. Outra interessante vista, é a cadeia dos Alpeninus na borda do mare Imbrium, com as crateras de Archymedes, Autolycus e Aristillus, e as ranhuras ao longo dos Apeninus. Na cratera de Plato será curioso observar o relevo variável do fundo da arena.

Nono dia: Nascer do Sol nas crateras de Clavius, Tycho e seu raios, Pitatus, Erastosthenes e a cadeia Reta do lado leste de Plato.

Décimo dia: Nascer do Sol em Longomontanus, Wilhelm I, Pitatus, Hesiodus, Bonpland e Fra Mauro (que foi uma cratera falada em duas cenas do filme Apolo XIII), no Mare Nubium. Copernicus, o mais notável dos circos lunares com sua enorme pirâmide central.

Décimo primeiro dia: O disco lunar começa a se tornar muito luminoso. Será conveniente o uso de filtro para outras regiões que não o terminadouro (linha limítrofe que delimita a região iluminada daquela ainda nas sombras),. Nascer do Sol em Mercator, Campanus, Bouilhaud, Montes Riphaeus, Reinbold e Tobias-Mayer.

Décimo segundo dia: Os acidentes começam a perder seu relevo progressivamente. Nascer do Sol nas crateras de Schiller, Doppelmayer, Gassendi, Hansteen, Flamsteed, Encke, Kepler com seus raios, Marius, Aristarchus, Herodote e as pequenas crateras do Mare Roris.

Décimo terceiro dia: Nascer do Sol nas crateras de Schickhard, Wargentin, Grimaldi, Hevelius, Seleucus. Convém observar o pólo sul da Lua onde os montes Doerfel e Leibniz aparecem no perfil da borda lunar.

Décimo quarto dia: Doze horas apenas da Lua Cheia. Na borda leste observamos os montes Heraymian, as cordilheiras e os montes dÀlembert, os circos de Bouvard, Riccioli, Cardan e Pythagoras.

Lua Cheia, embora haja ausência de sombra, é melhor para estudar as tonalidades dos mares e compará-los com os relevos. Sua observação é muito cansativa em virtude do excesso de luz. Um filtro azulado na ocular da luneta poderá auxiliar muito no exame das radiações luminosas de Tychus, Copernicus, Kepler e Aristarchus. Ao mesmo tempo, pode-se observar o fundo escuro das crateras de Ptolomaeus, Plato, Schickhard, Grimaldi e o anel luminoso de Archymedes.

Do décimo sexto ao vigésimo oitavo dias: a observação da Lua, neste período de Lua Cheia, quarto minguante, até a Lua Nova, será realizada na ordem inversa, com uma iluminação igual e em sentido contrário. As mesmas regiões desaparecem lentamente na sombra; trata-se do ocaso do Sol após 14 dias de luz.

As observações ocorrerão uma hora mais tarde na noite. Não devemos esquecer que a Lua irá retardar 52 minutos diariamente. Assim, após o quarto minguante, a Lua só será visível ao amanhecer.


COMO REGISTRAR AS OBSERVAÇÕES LUNARES?


Entre as formas de registrar as observações da Lua, seriam por meio de fotografias e por desenho. Sendo que, o desenho é o que apresenta melhores resultados para o estudo da superfície lunar. Já as fotografias, mesmo tiradas em grandes observatórios, retrata praticamente o que um refrator de 60mm de abertura nos mostra. O olho humano é, ainda o grande ampliador e, se há entre o cérebro e o olho perfeito entrosamento, um desenho pode revelar detalhes que não figuram em fotografia alguma, por melhor que seja. É esta razão pela qual os observatórios estão sempre solicitando o auxílio dos amadores observadores da Lua, para resolver problemas selenográficos. Onde existe vários programas de observações lunares por desenho, onde o amador é muito bem vindo com os seus registros. O mais famoso desses programas é o da ALPO – Association of Lunar and Planetary Observers, chamado “PROGRAMA LUA INCOGNITA” (Lua desconhecida). Onde os “Orbiter” lunares, nos anos de 1966 e 1967, e sondas posteriores, não foram capazes de fotografar toda a Lua sob boa iluminação solar, deixando uma área de 270.000 km quadrados próximos do polo Sul e ao limbo sudoeste, sem um mapeamento definitivo. Este programa teve seu início em 1978.

Um outro fator contrário ao meio fotográfico, é que os movimentos da atmosfera provocam permanente ondulação das imagens telescópicas; a fotografia lunar é praticamente instantânea, de forma que se obtém uma imagem momentânea. No desenho, ocorre uma sucessão de imagens, obtidas em vários instantes, as quais são comadas pelo observador. O desenhista pode ficar longo tempo à ocular e observar os pormenores relevantes e reproduzi-los tão bem quanto o permita a sua habilidade.



A TÉCNICA DOS DESENHOS LUNARES


Esta técnica, foi desenvolvida por um dos maiores estudiosos brasileiros de superfície lunar, trata-se de Rubens de Azevedo. E quando se reproduz em desenho um objeto qualquer, três pontos são essenciais:


a) Proporções exatas do objeto: largura, comprimento e altura, cada uma em relação à outra.


b) Clareza e boa definição de planos, sombras e profundidades.

c) Limpeza do desenho, economia de traços ou massas.


Vejamos como se executa o desenho de uma cratera. De início, podemos treinar copiando fotografias de crateras encontradas em livros ou revistas. Em primeiro lugar, copiamos cuidadosamente a cratera, procurando demarcar as sombras (que são estas que dão o relevo e as profundidades). Em seguida passamos à operação do sombreamento. Escolhemos a cratera de Arzachel, situada próximo ao meridiano central da Lua, formando um belo grupo com os circos de Alphonsus e Ptlomaeus. Pode-se iniciar com tinta mais escura a sombra profunda. Depois, com ligeiros traços, damos os tons intermediários. Este é o procedimento do desenho “artístico”, que tenta reproduzir fotograficamente o objeto. Quando se realiza esse desenho com nanquim aguado, ou seja, tinta da China diluída em água, pode-se iniciar pelos tons de sombra profunda.

O desenho lunar pode ser feito a nanquim, “guache”, lápis do tipo “crayon”, aquarela e até mesmo tinta a óleo.

Quando se realizarem vários desenhos copiados de fotografias astronômicas (Lua), pode-se passar a um segundo passo, que é diretamente da observação lunar. Por medida de precaução, seria conveniente copiar o esboço de uma boa carta selenográfica (Lua), traçar uma cópia do desenho, sem desenhar as sombras. E no ato da observação, teria a cratera em estudo, uma “base” já formada, restando ao observador desenhar as sombras e os pequenos detalhes.

Todo esse método, pode parecer complicado para as pessoas que não tem aptidão para desenhos, mas para aqueles que dominam esta atividade, não possuem muitas dificuldades.

Voltando ao tema, uma vez feito o esbouço, podemos nos colocar à ocular de um telescópio, identificar o objeto, o que pode ser feito (se o amador não tem conhecimento da superfície lunar), com o auxílio das coordenadas selenográficas, que vários mapas possuem. Observando a cratera (se for o caso), tentamos registrar rapidamente as sombras, traçando apenas os seus limites. É preciso notar o rápido deslocamento da imagem (admitindo-se, como na maioria dos casos, um telescópio sem movimento de Clock Driver – “relógio motor”). Uma vez determinados os limites das sombras, passa-se ao desenho.

O desenho lunar feito diretamente com o olho na ocular deverá ser terminado rapidamente e não poderá ser completado ou corrigido mais tarde. Certamente, muito tempo decorrerá para que se possa ver o mesmo panorama (mesmo em idêntica fase). É possível mesmo que nunca mais se possa observar a imagem de hoje, pois os inúmeros movimentos lunares, combinados com as librações, tornam quase impossível (dentro de um século, pelo menos), a repetição do mesmo tipo de iluminação. Depois de pronto, o desenho deverá conter as indicações necessárias tais como: Data; instrumento (abertura e ampliação); hora (sempre em Tempo Universal); nome do observador; coordenadas geográficas; endereço postal, e por último, a Colongitude (obtida em Anuários de Astronomia), que é representada pela abreviatura (Col), e determina a longitude oriental do Terminador (limite entre a sombra e a luz), por ocasião do nascimento do Sol na superfície lunar. Em outras palavras, mede a iluminação de uma dada região, sendo grosseiramente indicada pelas fases. Ela é cerca de 0º no primeiro Quarto Crescente; 45º no primeiro oitante; 90º na Lua Cheia e 135º no segundo oitante; 180º no segundo Quarto Minguante; 225º no terceiro oitante; 270º na Lua Nova e 312º no quarto e último oitante.


(A.A.P)

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